Da coleção de viagens – Vinho & Carnaval em Mendoza

Para uma fugidinha no carnaval em cima da hora, consegui uma programação pronta, quase exatamente com o que eu queria fazer, e melhor, com voo direto para Mendoza. O “Ogro” (meu marido) foi devidamente convencido, e lá fomos nós, pela segunda vez, tomar vinhos maravilhosos de “los hermanos argentinos”.

Entrada da Catena Zapata

Mendoza é um destino para adultos, para beber vinhos e comer bem. Na primeira vez, em 2017, ainda ousamos levar nossos meninos jovens (naquela época que eles sempre tem fome), e, além dos almoços nas bodegas, também jantamos todas as noites. Estivemos no Francis Malman, no Azafrán e no Brindillas que estava iniciando suas atividades. Não gostamos nada da comida do primeiro (embora o restaurante seja lindíssimo), o segundo foi somente um jantar “ok”, mas o último foi realmente algo inesquecível, uma das melhores experiências gustativas da minha vida (nesse fomos sozinhos, os “meninos” foram se aventurar na noite argentina).

Dessa vez, depois do primeiro jantar de sete etapas (que eles chamam de passos) que fizemos no dia da chegada (sem ter almoçado), nos demos conta que não estávamos mais acostumados com tanta estrepolia gastronômica e entendemos que somente algo muito especial provocaria nosso desejo de uma segunda refeição no dia. Então desmarquei as demais reservas para as noites (tudo lá é melhor reservar antes), pois, infelizmente desta vez não tinha conseguido o Brindillas, mesmo começando a tentar um mês antes da viagem. Então, outra dica: agendem o Brindillas como muita, muita antecedência, pois esse vale muito a pena, mesmo após as aventuras nas vinícolas de dia.

E atenção vegetarianos. Comer em Mendoza é uma soma do astral, do vinho e, especialmente, das carnes. A maior parte dos lugares que tem vários “passos” seguem cardápios bem parecidos, usando muito vegetais frescos e as frutas da época nas entradas e sobremesas (comemos tomates de todos os tipos e formas de apresentação), mas sem muita criatividade ou especial sabor. Porém, as carnes, são espetaculares, muitíssimos bem preparadas, e junto com os vinhos fantásticos e o ambiente, equilibram a refeição. Comemos vários tipos de carnes deliciosas. No Fogon, restaurante da vinícola Lagarde, comi o pato mais bem feito que já experimentei (sou bem crítica com pato pois amo essa carne).

Mas vou citar aqui alguns lugares para comer que foram aclamados por outros viajantes e não experimentamos, que talvez fujam ao padrão que encontramos: Abrasado (na cidade), Ana Bistrô (na cidade), e o par do Fogon na Lagarde, que se chama Zonda. Outra experiência que um casal nos contou, maravilhados, foi um piquinique na bodega do Luigui Bosca.

D UNO

No primeiro dia fomos ao Vale de Uco, que, assim como Luján, tem a linda Cordilheira dos Andes fazendo um acabamento maravilhoso do horizonte. O pico redondinho alto, sempre avistado com destaque, é um vulcão inativo, chamado Tupungato, que significa “janela das estrelas” (lindo, não?!). Ele fica nevado nas partes mais altas o ano inteiro e dá nome a uma das sub-regiões dessa área, que tem bons locais para comer e se hospedar. Da vez passada, passeamos de bike por ali e almoçamos no Tupungato Divino, restaurante de uma pousada fofa, com o mesmo nome. Nesse passeio também visitamos Andeluna e a Salentein (ambas lindas vinícolas), mesmo após eu quebrar o braço em um tombo de bicicleta (mas esse pode ser assunto para um outro post, e não se preocupem pois fiquei muito bem).

Mas dessa vez o principal objetivo e foi visitar a Pedra Infinita, a bodega mais nova da Zuccardi, que fica em uma outra sub-região chamada San Carlos.

Pedra Infinita (Zuccardi)

A arquitetura da Pedra Infinita é muito bacana, e adorei a história de sua construção e a concepção do seu nome. A área desértica enorme foi comprada para alocar novas videiras da Zuccardi (hoje a maior parte dessas plantações em Mendoza ficam nas regiões mais altas, exatamente no Vale de Uco) mas também para o projeto de uma experiência única com o vinho.

O terreno árido teve que ser exaustivamente limpo das milhares de pedras vulcânicas que haviam por ali e o número de caminhões necessários para esse trabalho ultrapassou muitas e muitas vezes o esperado. Por isso o nome de “Pedra Infinita”. Grande parte dessas pedras foram usadas na linda estrutura de todo prédio da bodega, que tem belíssimos jardins de plantas típicas da região e muitas parreiras em sua volta. Destaque para a porta de entrada, “bordada” com folhas e flores de metal, que contrasta com a arquitetura moderna.

Apesar da história e estruturas lindas, não nos surpreendemos muito com os vinhos atuais da Zuccardi. No momento estão com uma “pegada” de utilizar pouco os barris de carvalho, mesmo para a maturação final do vinho. Usam principalmente tonéis de concreto. Não sabemos se sentimos falta da influência da madeira, já registrada nos nossos sentidos, ou se a experimentação apressada prejudicou nosso paladar (isso foi bem chato… mal acabávamos de receber um copo e o outro já estava sendo preenchido). Mas o resultado final foi que o vinho simplesmente não nos convenceu.

Da Pedra Infinita partimos para a Andeluna. para um almoço harmonizado gostosinho, chegando ao hotel somente para um banho e cama. Se tivéssemos conseguido reserva, ainda iríamos na La Azul, bodega que fica também na região. O lugar é disputadíssimo, não tanto pelo vinho, mas pelo ambiente descontraído e a animação. Outra dica.

D Dos

No segundo dia fizemos um passeio de bicicleta por Chacras de Coria, um bairro mais residencial e arborizado, onde ficam bodegas menores, mas também a Vistalba e a Nieto Senetier (que vimos só pelo lado de fora e parece lindíssima). Também é possível visitar o bairro de Uber, ou mesmo andar a pé algumas distâncias. Usamos um guia da @baccusbiking, mas é muito fácil irem sozinhos, e acredito que nos teria dado mais liberdade para paradas e trajetos. Tem ciclovia em quase todos os lugares e outras locadoras de bikes no bairro.

Foi uma experiência fantástica, não tanto pelas bicicletas, mas pelas vinícolas pequenas, com destaque para a Pulmary (de vinhos orgânicos), onde o enólogo era o dono. Ele que nos guiou e explicou cada passo e detalhes da produção. Amamos os vinhos dali e gostamos muito também dos da bodega Clo de Chacras, onde almoçamos na beira de um laguinho de carpas. São vinhos muito pouco conhecidos aqui no Brasil. Agora, escrevendo para vocês, fui checar o nome da Pulmary e vi fotos de uma outra bodega linda na região que se chama Renascer. Se forem lá, me contem!

De noite demos uma volta pela cidade, especialmente na Praça da Liberdade e arredores, e beliscamos no Chaché Bistro, um cantinho charmosinho como uma lojinha pequena de vinhos diferentes. onde tomamos um maravilhoso, também pouco conhecido, que escolhi pelo nome e pelo rótulo: “Morir se de Amor” pelo qual pagamos 1/12 do preço no Brasil.

D Tres

No terceiro dia fomos na Catena Zapata, que foi a experiência mais estruturada de todas, uma verdadeira aula de história, além de vinhos maravilhosos, em um lugar incrível. A nossa “mestre” na degustação, que se chamava Joana, deu um show de profissionalismo, postura e conhecimento. A história da família é bem interessante e foi o tour que fizemos.

De lá fomos almoçar na casa Vigil, onde encontramos o simpaticíssimo Alexandre Vigil, “figuraça”, que assinou com carinho a garrafa de um vinho especial que compramos lá. O lugar é o quintal da casa dele e, pelo que vimos, usualmente passeia pelas mesas, oferecendo vinhos fora do menu e conhecendo as pessoas. Uma graça. O lugar é muito bonitinho, algumas mesas ficam sob a oliveiras e há cadeiras gostosas nos gramados. As verduras e temperos plantado na horta são realmente usados, pois vi o garçom colhendo e levando para a cozinha. Ainda ganhei maquiagem de carnaval e muitas taças de vinhos extras. Completamente felizes, voltamos para cidade para comprar as garrafas que traríamos nas malas.

Sobre trazer vinhos de Mendoza

Como queríamos abusar, tentamos ir na “Disneyworld dos vinhos argentinos” que conhecemos na primeira vez e vale muito a pena. Se chama Grandbar Distribuciones e é um depósito gigante, com todas as vinícolas organizadas pelos nomes e pelo nível dos seus vinhos. Acaba sendo também uma aula de vinhos. Mas batemos com a cara na porta – estava fechada por conta do feriado (sim… tem feriado de carnaval na Argentina e também no Chile). Pior é que fica fora da cidade, uns 20 minutos de carro. Meio frustrados, voltamos para as lojas de vinho da cidade, que dão descontos e ainda tem preços melhores que os das vinícolas.

Disney de vinhos em Mendoza.

É permitido trazer para o Brasil até 12 litros por adultos, o que corresponde a 16 garrafas, que devem estar dentro da cota dos 500 dólares por pessoa. No lugar das malas de porão, é possível embarcar até 12 garrafas em um único pacote de caixas de transporte, mas tem que envelopar no aeroporto (colocam adesivo de frágil e chip de localização). Também é possível despachar na mala em si, mas aí precisa estar dentro dos limites de 23 kg (o peso contratado usualmente na compra da passagem). Além disso, é permitido levar na mão até 6 garrafas por pessoa (em sacolinhas plásticas mesmo), que teoricamente devem ficar embaixo do banco durante o voo. Isso sem contar a mala normal de bordo (medidas padrão da companhia) e a bolsa pequena. Ou seja, pode trazer muita coisa e é muito vinho bom com um preço muito legal. Se puderem, aproveitem.

Voltamos para casa lotados de vinhos na bagagem e no organismo, achando que precisaríamos de umas férias prolongadas da bebida. Mas não rolou não… e no final de semana seguinte já estávamos apresentando o vinho orgânico raro especial para amigos queridos. Tim-Tim!

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